O programa desportivo da RTP N, “Trio d’Ataque”, tem uma rubrica, o “Topo e Fundo”, em que os comentadores de serviço (António Pedro de Vasconcelos, em representação do Benfica, Rui Oliveira e Costa, do Sporting e Rui Moreira, pelo FC Porto – note-se que a ordem é alfabética, e por mero acaso, coincide com a ordenação comummente aplicada), fazem as suas escolhas para cada um daqueles “pódios”.
No pouco que assisti da edição de ontem, foi sem grande surpresa que vi António Pedro de Vasconcelos colocar no “Fundo”, a decisão do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa, que considerou inválidas, na parte do processo “Apito Final”, relativa ao Presidente da União de Leiria, João Bartolomeu, as escutas telefónicas retiradas do “Apito Dourado”.
Caiu mal entre os benfiquistas mais esta arrochada no “Apito”. Causa-lhes um tremendo mal-estar e azia enorme que, afinal de contas, o “Apito Final” venha desmantelar o “Dourado”, e pôr a nu a inconsistência da, tão defendida por eles, “justiça desportiva”.
Para o sr. António Pedro, que segundo afirmou, “não é jurista”, mas que teve algumas conversas com pessoas entendidas no assunto, a decisão do tribunal foi mal fundamentada, e não compreende como é que, face à gravidade do que se ouviu nas escutas, passe a redundância, e às decisões de sinal contrário a esta, tomadas por outros 23 juízes, o Tribunal tenha decidido como decidiu.
Independentemente da gravidade do que foi escutado a João Bartolomeu, pois não é isso que está em causa na decisão do Tribunal, como querem fazer crer o sr. em causa, e os senhores com quem terá conversado, ainda vivemos num pretenso Estado de direito.
Sabe-se que para os benfiquistas, as decisões dos tribunais, quando não são favoráveis às suas pretensões, o que até acontece com bastante frequência, não passam de lana caprina. No entanto, já bastas vozes haviam avisado que a prova recolhida em processo criminal não podia ser reutilizada em processo disciplinar. E adiantou alguma coisa?
Nem por isso. O que colhe para o sr. Vasconcelos, e para os benfiquistas em geral, é o argumento dos 23 juízes que decidiram a favor das suas ideias. No fundo, é a tal história dos seis milhões.
Em seis milhões, apanhar 23 benfiquistas, é mais provável do que apanhar quem não o seja. Agora, pelos vistos aconteceu. Azar nítido.
E quanto às conversas, era capaz de apostar que, pelo menos um (ou mais), dos interlocutores terá saído do seguinte grupo: Fernando Seara, Cunha Leal, Sílvio Cervan, João Correia.
Para tranquilizar os benfiquistas, e aliviar o ardor estomacal, gostaria de lembrar, que, ao contrário do noticiado, nada disto irá aproveitar ao FC Porto. Ao Boavista e à União de Leiria, talvez sim. Mas ao FC Porto, nem por isso.
E porquê? Porque o único caso em que o FC Porto foi castigado com base em escutas telefónicas, foi o famoso “Caso da Fruta”, do jogo com o Estrela da Amadora, que já está arquivado por falta de provas, pela segunda vez, depois de ressuscitado pela Dr.ª Maria José Morgado.
No caso do árbitro Augusto Duarte, não houve escutas, mas sim o depoimento da Carolina Salgado, reforçado depois no seu best-seller. E este também já foi julgado, tendo Pinto da Costa sido absolvido de todas as acusações.
Portanto, no caso do FC Porto, animem-se que não é por aqui que o gato vai às filhós.
Assim, fico à espera de ver, talvez na próxima semana, o António Pedro de Vasconcelos colocar no “Fundo”, o Delegado da Liga castigado por causa das omissões no relatório do jogo Benfica x Nacional.
Depois, foi com enorme regozijo que pude constatar a frustração dos três comentadores, relativamente à derrota do FC Porto contra o Chelsea.
É assim. O FC Porto eleva as expectativas de tal maneira, que depois as pessoas estranham que não ganhe, ou pelo menos empate, na casa do clube do Abramovich.
Os londrinos são candidatos à vitória na Liga inglesa, e para os comentadores, também o são à Liga dos Campeões, tendo ficado, para eles, a pairar a ideia de que, se tivessem acelerado mais um pouquinho, ai do FC Porto.
A opinião geral foi de que o FC Porto devia ter ido jogar de “peito feito”, de igual para igual. Com o Falcao e o Varela, no mínimo, e talvez o Belushi, nos lugares do Cristián Rodriguez, do Mariano Gonzalez e do Guarín.
O prof. Jesualdo ao mexer na equipa, como fez, de acordo com os ditos comentadores, terá passado um atestado de menoridade ao FC Porto, ferindo, para o comentador do Sporting, e principalmente, António Pedro de Vasconcelos, o orgulho nacional, a dignidade, o nome e a honra do futebol pátrio. Enfim, um crime de lesa Pátria.
Por norma, revejo-me nas posições de Rui Moreira, mas desta vez, talvez levado pelo seu entusiasmo, não me parece que tenha razão.
Então vejamos. Perante o Chelsea, candidato à Liga nacional e à Champions, com um poderio financeiro incomparável com o do FC Porto (LOL), e a quem bastaria uma aceleração para desfazer o castelo de areia portista, o FC Porto deveria entrar na máxima força?
Estamos a falar do FC Porto, que em 14 jogos, como hoje fazem questão de referir quase todos os jornais, nunca ganhou em Inglaterra, e que nos próximos dois jogos da Liga Sagres vai enfrentar o SC Braga e o Sporting. E estamos a falar, para além disso, de um jogo disputado à chuva.
Desculpem lá, mas, desta vez, acho que o Jesualdo fez muito bem em reforçar o meio-campo, poupando jogadores, e dando minutos a jogadores menos rodados.
Aliás, tirando a componente das expectativas, que no caso portista são sempre elevadas, o que até é salutar, e um sinal do respeito que os adversários nutrem por nós, não percebo o espanto. Na primeira parte o jogo até não correu mal, e se o Raul Meireles soubesse cabecear, outro galo poderia estar a cantar.
Ainda há menos de um mês, o treinador de um clube enorme deixou de fora de uma partida uma série de jogadores, precisamente para dar minutos a atletas menos utilizados. Perdeu o jogo contra o portento ucraniano Vorksla Poltrava, e nem por isso cairam o Carmo e a Trindade, e terão ficado feridas a dignidade e a honorabilidade do futebol português.
Será, talvez, sinal de habituação!
É bem certo que a eliminatória estava praticamente assegurada com o resultado do jogo em casa. Mas que diabo! Para o FC Porto era a estreia na Champions. O primeiro jogo do grupo, e com o empate entre Atlético de Madrid e Apoel, decisivos, decisivos, são os jogos com estes e o jogo em casa com o Chelsea!
Não vale a pena dar o passo maior que a perna, e correr o risco de deixar fugir o Benfica na Liga, o que vinha mesmo a calhar para a estratégia de “bola de neve” dos encarnados.
Haja tranquilidade, como diria alguém, que mesmo com aquela equipa, demos luta ao Chelsea, e esqueçam as “teorias da aceleração”.