"No final do jogo, cerca de 5 minutos após o seu término, o sr. Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, após sair do balneário da sua equipa, mais concretamente na designada zona técnica, interpelou, em tom alto e exaltado, o dr. Luís Duque, administrador da Sporting SAD, que se encontrava no hall de acesso aos balneários, proferindo, pelo menos, as seguintes expressões:
- “Devias ter vergonha”
- “Era para isto que vocês queriam controlar tudo”
- “Era para isto que queriam que a gente controlasse a arbitragem”
- “Foste tu que me disseste que tínhamos que controlar tudo”- “Não me faças falar, não me obrigues a pôr a boca no trombone”
Noutras paragens mais dadas a coisas sérias, declarações desta índole talvez não passassem em claro. Possivelmente alguma mente perturbada, seria bem capaz de somar dois mais dois, e associá-las a outras situações, também elas por esclarecer.
Assim de repente, recordo-me, por exemplo, da divulgação dos dados pessoais dos árbitros ou da história do dirigente sportinguista Paulo Pereira Cristóvão, e do dinheiro depositado na conta do árbitro assistente José Cardinal. Só por mero acaso, obviamente, e querendo acreditar que, tudo somado, não passarão de coincidências. Tudo muito natural e inconsequente.
De que outra forma poderia ser? Como ficariam aqueles, tantos, que defendem que FC Porto e sistema são indissociáveis?
A esses, dirijo-lhes um pedido encarecido, retrocedam por favor uns anitos. Apenas até à última década do século passado, se faz favor. Aos dez anos em que o FC Porto conquistou oito títulos de campeão nacional.
Se não se situasse aí o epicentro do tal sistema, hão de convir que, pelo menos, estaríamos em presença do seu apogeu. Em particular a partir de 1994, ano que marcou o início da contagem do pentacampeonato.
Por essa altura, na presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), estava o Eng. Vítor Vasques, que em 1996, deixaria o lugar a Gilberto Madaíl.
Na mesma época, presidia a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (Liga), o major Valentim Loureiro (até 1994), a quem sucederam Manuel Damásio (1994-1995), Pinto da Costa (1995-1996) e o próprio major, até 2006.
A esse período áureo azul e branco, seguiram-se três temporadas com a Liga a ser conquistada por outros emblemas.
O Sporting, que interrompeu em 1999/2000, o seu jejum de dezoito anos, o Boavista que se estreou nos triunfos em 2000/2001, e daí para diante foi sempre a descer, e os da Calimeroláxia, que tornaram a vencer em 2001/2002.
De então, até aos dias de hoje, seguiram-se mais oito vitórias nossas, entrecortadas pelos triunfos encarnados de 2004/2005 e 2009/2010.
O sistema, esse bicéfalo ente metafísico, como o caracterizou um caduco presidente sportinguista, terá sido tão cuidadosamente congeminado, que nem se olvidaram de lhe pespegar uma espécie de interruptor, que alterna “on/off”, consoante é o FC Porto ou são outros a ganhar.
Se foi criado, ou atingiu o seu expoente máximo nos idos de 1994 a 1999, então, a sua operacionalidade terá sido interrompida entre 1999/2002. Voltou à efectividade em 2003, para novamente parar em 2004/2005, retornar em 2005/2006, tornar a sair de cena em 2009/2010, e entrar em grande nas últimas duas temporadas.
Pelo meio, tivemos os famosos “Apitos”, “Dourado” e “Final”, os pretensos movimentos regeneradores da verdade desportiva, que, pelos vistos, em pouco ou nada beliscaram o ilustre sistema. Compreensivelmente, admita-se.
Um caso de prostitutas e uma conversa com um árbitro em vésperas de uma partida, ridicularizam a magnitude incomensurável de algo como o sistema
Bem vistas as coisas, FC Porto e as papoilas saltitantes foram campeões com João Rodrigues, Vítor Vasques e Gilberto Madaíl na presidência da FPF.
Somente os mesmos dois clubes lograram ser campeões com outros presidentes na Liga, que não Valentim Loureiro (Manuel Damásio, Pinto da Costa e Hermínio Loureiro, no caso do FC Porto, e só o último, no caso do outro clube).
Sporting e Boavista apenas foram campeões com a dupla Madaíl-Loureiro, ao leme do futebol nacional. O tal sistema será independente das suas figuras maiores?
Se perdura desde a década de 90, o que vemos é que, por dentro ou do lado de fora do sistema, o FC Porto ganhou e perdeu. Do mesmo modo que também triunfou com todos os presidentes da FPF e da Liga.
Os dois últimos títulos obtidos pelo clube mais grande do Mundo dos arredores de Carnide (2004/2005 e 2009/2010), foram alcançados em timings propiciamente particulares.
O primeiro passou pelos interstícios do sistema, numa altura em que, por força do “Apito Dourado”, o major Valentim Loureiro se encontrava suspenso. Assumiu então as suas funções o director executivo da Liga, Cunha Leal. Foi a Liga dos sumaríssimos e do Estorilgate, entre outras tropelias.
O outro aconteceu na sequência da tal famosa onda de apoio, que incluiu de tudo um pouco, numa confluência de interesses mediáticos, políticos, desportivos e financeiros, nunca vista até então, e que, como tão bem ilustrou Rui Moreira, consubstanciaram o andor que levou o campeão ao título.
O pior período do FC Porto, entre 1999/2000 e 2001/2002, curiosamente, é coincidente com as vitórias de Sporting e Boavista.
Portanto, fica a ideia que, mesmo nos tempos conturbados do anti-sistema Vale e Azevedo, dos contratos rasgados com a SIC e a Olivedesportos, a presença institucional do clube a que este presidiu, se fazia, ainda assim, sentir.
A sua saída, e a necessidade de arrumar a casa, só possível após aquele perdão, terá concentrado os esforços da direcção de Manuel Vilarinho. Só uma vez atingido esse desiderato, e com a ascensão de Vieira à presidência em 2003, passou a valer a máxima “são mais importantes os lugares na Liga, do que contratar bons jogadores”.
Ou seja, só com FC Porto e as papoilas na mó de baixo, é que Sporting e Boavista lograram triunfar. Se o FC Porto é, conforme querem fantasiosa e sistematicamente fazer crer, o detentor do poder, quem será então o contrapeso?
Porventura alguém, alguma vez, terá ouvido o presidente do FC Porto falar tão explicitamente sobre controlar o que quer que seja, quanto mais “tudo”?