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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Truz, truz, quem vem lá?

05
Dez14

Há uma regra na vida, que embora nunca tenha aplicado pessoalmente, tenho de ciência certa, que resiste a qualquer teste ou experimentação.

 

Só vocês saberão o porquê, mas imaginem que vão visitar uma vidente, uma astróloga, uma cartomante, uma taróloga, uma cigana, como quiserem. Se baterem à porta ou tocarem à campainha, e do lado de lá uma voz perguntar: “Quem é?”, esqueçam. É escusado, podem dar meia volta e ir embora.

 

Assim andam a arbitragem portuguesa e as nomeações do Vítor Pereira. Ele bem nos pode oferecer a bola de cristal, o baralho de Tarot, e dizer-nos que vamos ter os melhores árbitros nos melhores jogos.

 

A acção não bate certo com o discurso, e as nomeações que faz são de tal forma incompreensíveis, que se tornam mais imprevisíveis que uma ida dos meus filhos à casa de banho.

 

Isto, caso se perguntem, vem muito concretamente a propósito da recente nomeação dos Manueis, o Oliveira e o Mota, para os jogos do actual primeiro classificado e o nosso.

 

Mas não é novo. Já no final da época passada, que ainda por cima, marcou a estreia da profissionalização da arbitragem, questionei esta “política”. Não estão disponíveis os internacionais/profissionais, e vão estes? Será isso?

 

Paulo Baptista – um árbitro que, não obstante a longa carreira, pelos vistos, nunca mostrou competência suficiente para alcançar a internacionalização, mas que possui no seu currículo um vasto lastro de presenças em clássicos e até uma final da Taça de Portugal – comentou criticamente na época passada, que seria uma forma de preservar os internacionais.

 

Apitavam menos, logo, mais longe do escrutínio geral estariam e menos erros cometeriam.

 

Então mas estes, não é suposto serem os melhores? Se são os melhores, não errarão menos que os outros?

 

Ou afinal, é tudo a mesma coisa? Se é assim, porque é que estes é que são internacionais/profissionais, e não os outros? Qual é o critério de escolha? As avaliações?

 

Então, mas se não chegam a internacionais porque não têm boas notas, a seguir vão apitar os tais melhores jogos? Para quê? Melhoria de nota?

 

Tudo isto é muito relativo. Ainda há umas jornadas atrás tivemos um belo exemplo do que é a ironia poética da nossa arbitragem.

 

Bruno Paixão, um árbitro que fez o percurso inverso, sendo despromovido de internacional, segundo a lógica, por não ser suficientemente competente para tal, foi apesar disso, escolhido para um jogo importante.

A coisa até não lhe terá corrido mal, mas um dos seus auxiliares cometeu um daqueles erros de palmatória, perfeitamente naturais, quando a favor de um dos clubes em compita. O que é que aconteceu? Todos caíram em cima do Bruno, e irão cair-lhe enquanto o caso estiver em cache na memória.

 

Nessa mesma jornada, o Artur Soares Dias, árbitro internacional, fez uma arbitragem do mais ranhoso que há, num jogo nosso, e o que é que lhe sucedeu? Escapou-se incólume por entre as gotas de chuva.

 

Por isso, esta questão, quanto a mim, ultrapassa já o mero pormenor da “escolha”. Acho que entrámos grandemente no domínio da gestão danosa.

 

Se existem recursos disponíveis, estamos a pagar por eles, e não os utilizamos, o que é que podemos chamar a isso?

 

Faz-me lembrar um País que conheço, que também foi pago para esquecer a pesca, a agricultura, a indústria: “Ah, e tal, esqueçam lá isso, que vos damos fundos para a formação profissional”. O resultado está à vista.

 

E se existem recursos disponíveis, pagamos por eles, não os utilizamos, e ainda vamos pagar a outros piores para executarem a mesma tarefa, então, nem sei o que diga.

Como na canção

04
Fev13

 

 

Certamente conhecem a canção do vídeo aqui em cima, e quase de certeza em versões de vários artistas.

 

É também quase certo que, sendo universalmente conhecida, não terão tido a paciência de a escutar mais uma vez. Possivelmente estarão também a matutar onde é que quero chegar. Ou talvez não. A divagação é o prato do dia mais frequente.

 

Se conseguirem aceder a uma repetição do nosso jogo de Guimarães, experimentem desligar o som da transmissão, assim, como assim, não se perde grande coisa, e ponham a música a tocar enquanto assistem ao que se vai desenrolando no relvado.

 

Esta é, para mim, a canção daquele jogo. Para além dos momentos de interrupção na partida (bolas fora, livres cantos…), só há outros três em que a música e o futebol se descolam: os nossos três primeiros golos.

 

É nessas alturas que o “softly” dá lugar ao “killing”, e o adversário leva a estocada, que não é final senão à terceira. Uma, duas, três vezes. O quarto golo já é mais um acrescento, daqueles para atrair a sorte, ou neste caso, aumentar o “goal average”.

 

“Killing me softly”. A nossa canção matou o Vitória. Mas matou-o lentamente, sem correrias avassaladoras ou precipitações. Como se o cozinhasse em lume brando, à maneira da sapateira, papel a que os vimaranenses aqui há tempos se prestaram, mas pela inversa: brancos por fora, vermelhos por dentro. E a caquinha na cabeça.

 

Numa abordagem menos culinária da coisa, e mais “national geographiquiana”, a nossa equipa e o seu futebol tricotado, de toque e posse, poderiam comparar-se a uma aranha, que tece a sua teia e espera até que nela se enrede a sua presa, para depois, calmamente, quando esta de tanto estrebuchar, acaba por tornar irremediável a sua sujeição, dar-lhe a espetadela final.

 

É este o futebol do nosso treinador. Diz ele que, "Demorou, mas a equipa está como quero".

 

No fundo, valha a verdade, o futebol que se viu nos últimos dois jogos, é o futebol que nos está no ADN desde os tempos de José Maria Pedroto, e que nem o André Villas Boas logrou conseguir replicar.

 

Vítor Pereira acrescentou-lhe a sua visão do que é o jogo, e a sua visão é extremamente egoísta, como aqueles miúdos dos tempos do futebol de rua, que que queriam a bola só para eles.

 

A lógica é essa, só joga quem tem a bola. Quem não a tem, anda a correr atrás dela, e desgasta-se. Do outro lado, é o tal repouso activo, com a bola controlada, de que falava Villas Boas, mas que não deu tempo a si próprio para implementar. As coisas correram-lhe demasiado bem, depressa demais.

 

Nestas duas ocasiões isso foi conseguido, e começa a tornar-se perfeitamente vulgar a bola estar do nosso lado em dois terços do tempo de jogo, tal a sucessão de encontros em que tal acontece.

 

Os golos eram o que faltava, e marcaram a grande diferença entre as partidas com o Gil Vicente e o Vitória de Guimarães, e outras que não passaram de um enorme bocejo. É esse o segredo: posse para quê?

 

Para marcar, obviamente. Lá atrás, deixei de propósito de fora o quarto golo, porque foi o único nascido de uma jogada de futebol jogado, digamos que normal.

 

 

Os dois primeiros de duas belas cabeçadas - o Mangala parecia o meu saudoso Hörst Hrubesch -, em lances de bola parada. O terceiro, com a linha avançada composta por Varela, Jackson Martinez e Lucho Gonzalez, numa resposta a um passe vertical do menos provável dos médios, o Fernando.

 

Foi isto que não aconteceu noutras ocasiões. Quando Vítor Pereira diz que demorou, mas finalmente a equipa está como ele quer, não é difícil de perceber.

 

O primeiro esboço daquilo que vimos nas duas últimas semanas, pareceu-me descortiná-lo nos 15-20 minutos iniciais da Supertaça Europeia, contra a equipa que é alma mater deste modelo de jogo, o Barça.

 

De então para cá, perdeu-se. Ou teve que ser reconstruído. É naturalmente mais difícil fazê-lo sem alguém que marque golos, como um Falcao, e tremendamente mais fácil quando se tem um Jackson Martinez, em vez de um Hulk a jogar a avançado-centro.

 

É mais fácil fazê-lo quando se têm jogadores que sabem trocar a bola e que não se inibem de fazê-lo, do que quando se tem jogadores que não percebem o que o treinador pretende deles em campo, como o empresário do Guarín chegou a afirmar.

 

É mais fácil quando há disponibilidade mental para o fazer, e quando a cabeça não está noutro sítio.

 

Tudo isso terá atrasado o produto final, mas agora, olhando para trás e vendo alguns dos jogadores que entretanto saíram, dá-me a ideia de que, independentemente da sua valia técnica, as coisas não foram feitas por mero acaso.

 

O Álvaro Pereira, o Guarín e até mesmo o Hulk, têm um futebol mais físico e à base de repelões, que em estilo de jogo os aproxima mais daquele que é o padrão de outras equipas, que do nosso actual.

 

O Sapunaru, o Fucile ou mesmo o Djalma, não são tecnicamente tão dotados como os nossos actuais laterais, logo não tão facilmente enquadráveis no tal futebol de posse e toque a que se queria chegar. E assim por diante.

 

A questão agora é outra. Demorámos a chegar a este ponto, convirá não ter pressa em sair dele. As contratações de Inverno parecem indiciar que é, de facto, para continuar.

 

Até o plano B, que sempre foi uma das minhas fixações, parece que vem a caminho através da exploração das dinâmicas que poderão existir entre o Liedson e o Jackson Martinez. Que mais se poderá exigir? Títulos, é claro. Vitórias. Só isso.

 

O Vítor Pereira, para quem por vezes não o compreende, como é o meu caso, vai-se desvendando. O “até que enfim” após o último jogo, foi revelador, e combinado com a música, fez-me lembrar um basquetebolista dos tempos de glória dos Detroit Pistons de Chuck Daly, o Joe Dumars.

 

  

Numa equipa de operários, onde a grande vedeta era o Isiah Thomas, o Joe Dumars era conhecido por “Silent Killer”. Pouco se via, mas nos momentos cruciais, ele estava lá.

 

Vou tentar lembrar-me desta associação de ideias na próxima vez que tiver dúvidas em relação ao nosso treinador. Eis que, para mim nasceu o Vítor “Silent Killer” Pereira.

As venturas e as desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) – A Conclusão

30
Jan13

Bem, as coisas precipitaram-se um bocado desde que me lancei nesta saga, e o que é certo, é que a realidade superou em larga medida a minha suposta capacidade de análise.

 

Em Braga, contrariando inusitadamente quase tudo aquilo que escrevera, o treinador de cavalos resolveu inovar e alterar o esquema táctico habitual.

 

Escusado será de dizer que perdi grande parte da vontade de concluir a empreitada. Mas reconheço que até parecia mal. Portanto, com as minhas desculpas aos que pensaram que desistira, vamos lá tentar acabar em beleza os dois momentos anteriores:

 

As venturas e desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) - O Início

 

As venturas e desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) - A Continuação

 

 

 

Gestão do plantel

 

Como muito bem notou o nosso treinador na antevisão à última partida:

 

“Às vezes leio críticas em que baixamos de qualidade, de ritmo, mas é preciso analisar correctamente as situações e perceber as opções que de repente perdemos na equipa, uns porque foram para as selecções, outros porque se lesionaram, e passamos por este período sem ceder qualquer ponto, à excepção do jogo da Luz, mas aí eu olhava para o nosso banco de suplentes e via se calhar o mais jovem de sempre que se deslocou ao Estádio da Luz e acabamos por empatar e fazer o jogo que fizemos.”

 

Esta é uma constatação pura e dura. E factual. Entretanto, com as contratações de inverno e os regressos do James e do Atsu, a situação tenderá para desanuviar.

 

Porém, a gestão que foi (vai) sendo feita, ainda que não por si só, ter-nos-á custado a eliminação da Taça de Portugal, e vamos ver o que acontecerá na Lucílio Baptista.

 

Do outro lado o que vemos?

 

Depois de ter sido o ponto por onde o nosso adversário claudicou rotundamente na época passada, foram dados de mão beijada ao treinador os ingredientes necessários para que tal não torne a acontecer, aliviando-o de algo que, comprovadamente, está para além da sua competência.

 

O seu plantel foi construído tendo por base a filosofia aplicada aos eletrodomésticos produzidos por essas Chinas, Taiwans e quejandos, e que grandemente concorreu para a falência de tantas lojecas tradicionais de reparação dos ditos: estragou-se uma peça, vai fora e compra-se outro.

 

Basta olhar para a quantidade de elementos propensos às grandes as cavalgadas, ou seja, extremos, e avançados colocados à disposição. Dentro do modelo de jogo característico, funcionam assim como uma espécie de Pony Express, dos tempos modernos: correm até cair para o lado, e depois entra outro. E assim sucessivamente.

 

Como se tem visto, tem gente em número suficiente para isso, e até para introduzir inesperadas modificações no esquema táctico.

 

Deste modo, também por aqui quem correrá mais riscos? Quem tem a papinha feita, ou quem na falta de cães, tem que inventar gatos que os substituam?

 

Lançamento de novos jogadores

 

Numa das crónicas que motivaram esta deambulação, Miguel Sousa Tavares escreveu o que se segue, a propósito do Vítor Pereira:

 

“Com ele à frente, James teve de esperar meia época para conquistar a titularidade a Varela e a Cristian Rodriguez (…). Com ele, Atsu, Kelvin, Iturbe, Sebá e Tozé esperam e esperarão indefinidamente que o treinador lhes um décimo das oportunidades que têm jogadores «consistentes» como, por exemplo, Defour e Varela. Ao contrário de Jorge Jesus no Benfica, Vítor Pereira é um destruidor de talentos no berço”.

 

Neste particular, sinto alguma dificuldade em acompanhar o raciocínio do cronista. Que jogadores é que foram lançados no outro lado com sucesso, que se possa afirmar terem sido apostas pessoais do treinador?

 

Assim que me lembre, só vislumbro o Fábio Coentrão e, por aproximação, talvez o Di Maria. Há mais?

 

David Luiz? Já lá estava. Javi Garcia? O Ramires, que já era internacional brasileiro? O Witsel, cuja qualidade era inquestionável, tanto que já zarpou? O Emerson? O Melgarejo? Ou serão o Artur Moraes, ou o Paulo Lopes? Quem?

 

Não quer isto dizer que, do nosso lado o panorama seja muito distinto, que não o é. Digamos que descobrir talentos, tanto de um lado como do outro, é algo que a ambos de sobremaneira, não lhes assiste.

 

Contudo, há um item no curriculum do nosso treinador que já ninguém lhe apaga, nem com Supergel: a limpeza operada no balneário na temporada passada, que o obrigou a procurar alternativas.

 

Portanto, neste capítulo, digamos que se equivalem. O que se verifica é que são os dois treinadores bastante conservadores. Uma vez encontrada a sua equipa-tipo, a ela permanecem fiéis até que algum motivo de força maior os obrigue a introduzir modificações, e tal, obviamente, prejudica o lançamento de jogadores jovens.

 

A isso, acresce ainda a justificação aduzida pelo nosso treinador na antevisão acima mencionada, relativamente à aquisição de jogadores experientes no mercado de inverno:

 

“A questão é que um jogador jovem numa altura destas, se não tiver experiência para chegar e render, de pouco vale. Normalmente demoram o seu tempo a adaptarem-se. O próprio campeonato tem características próprias. Nesta altura, acho mais importante apostar em jogadores de qualidade, que vêm acrescentar qualidade ao nosso plantel e estão adaptados ao nosso campeonato. São jogadores que estando ao seu nível físico rapidamente conseguem estar disponíveis para acrescentar mais soluções ao treinador.”

 

 

Conclusão:

 

…finalmente!

 

Tudo isto somado, e ainda que, continuo a dizê-lo, sinta muitas vezes dificuldades em interpretar o nosso treinador, e dele discorde, não venham comparar o incomparável.

 

O que temos do outro lado é a conjugação perfeita da fome com a vontade de comer. Um matrimónio perfeito, ainda que em muitos momentos, certamente ditado apenas por conveniência, entre um presidente e um treinador, fazendo uma dupla que é uma ode ao pato-bravismo nacional.

 

De que outra forma se poderá entender a manutenção à frente dos destinos daquela equipa, de um treinador que, em três épocas, conquistou apenas um título de campeão nacional, contra três treinadores diferentes do principal oponente, sendo-lhe dadas todas as condições endógenas e exógenas, inacessíveis a quaisquer outros, para que o fizesse?

 

Com as nossas cores, não me lembro de mais ninguém para além do Fernando Santos, que tenha coleccionado dois insucessos consecutivos.

 

O nosso treinador, até agora, ganhou um título de campeão nacional, à primeira tentativa. O que acontecerá quando falhar?

 

Como vimos, o modelo de jogo, a apreciação que os adeptos deste fazem e o plantel, não o favorecem. Cada vez mais, ainda que como disse, não o compreendendo e até discordando por vezes do que vou vendo, parece-me que tem uma idéia muito precisa de onde quer chegar e do que tem que fazer para o conseguir. Contra ventos e marés.

 

Daí a comparação com o palhaço acrobata, que roubei aos Rádio Macau. O palhaço tem, ou será bom para a sua sanidade mental que tenha, perfeita consciência de si, as palhaçadas fazem tão somente parte do seu papel.

 

O Vítor Pereira, em parte, também é assim. Ainda que para os adeptos, muito daquilo que faz não passe de uma perfeita palhaçada, dando bem mais azo a críticas de toda a ordem, do que a acessos de hilaridade, prossegue o seu caminho indiferente, que mais não seja na aparência.

 

Bem vistas as coisas, quanto a mim, arrisca e arrisca-se muito mais do que o seu colega do outro lado. Não obstante, a corda na qual se tenta equilibrar, tem na realidade, muito pouco de bamba.

 

Isto porque ao longo do percurso tem a sustentá-lo a tal famosa estrutura, que agora alguns querem pôr em crise à conta do episódio da Taça Lucílio Baptista.

 

No seu caso, tal como no de tantos outros, tudo dependerá do resultado final. Quem em três, perde duas, não dirá certamente o mesmo.


Nota: As minhas desculpas ao Miguel por utilizar uma imagem que vi no seu Tomo II. Achei que ficava aqui, mesmo a calhar.

As venturas e as desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) – A Continuação

26
Jan13

O que se segue é a continuação do texto "As venturas e as desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) - O Início.

 

Apreciação do modelo de jogo pelos adeptos

 

Poderei estar eventualmente a laborar num erro, mas penso que de entre os adeptos portistas, mesmo muitos daqueles que defendem o treinador com unhas e dentes, apenas porque sim ou porque é o nosso, não serão poucos os que frequentemente terão dificuldade em rever-se no tipo de jogo que a equipa produz, apesar de o importante prevalecer – ir vencendo.

 

Quando estrategicamente, aquilo que se espraia no terreno de jogo tem até para os mais despertos, o efeito soporífero de transformar o que se vai vendo, ao vivo ou no meu caso, na televisão ou no online, num lento e sonolento bocejo, algo não corre bem. Queremos mais. Queremos sempre mais. É a nossa marca distintiva.

 

Do outro lado há uma empatia, diria que quase total, entre o modelo de jogo adoptado e os adeptos, ainda que nem sempre a coisa corra pelo melhor. Nesse caso, tem toda a pertinência o diagnóstico da situação feito por um homem da casa, Carlos Daniel, e que consta no excerto que reproduzi no texto que deu origem a esta "reflexão".

 

Faltou-lhe, como é tão típico entre nós, indicar o ou os responsáveis, pelo estado de coisas diagnosticado. Ou talvez não estivesse interessado nisso, uma vez que o (de)mérito cabe sem sombra de dúvida, ao treinador daquele clube.

 

 

Não que tenha descoberto a pólvora, ou inventado algo de novo. Nada disso. Quanto muito terá o mérito de ter alguma memória, e de ter conseguido replicar algo que outros não conseguiram, e que foi o estilo de jogo de correria louca, que tanto me irritou nos idos dos anos 80, em que os jogadores daquele clube pareciam correr sempre mais, e ter um dinamismo superior a todos os demais.

 

Ou seja, o futebol que sempre foi apanágio daquela equipa e que fez dos seus atletas papoilas saltitantes. Digamos que nos tempos áureos dos anos 60, a diferença se fazia muito, entre outras coisas, que não vêm agora ao caso, através da força física de uns tais Eusébio e Coluna, da velocidade de um José Augusto e de um António Simões [ndr.: por lapso, mencionei inicialmente Jaime Graça], e da altura de um José Torres. E do profissionalismo, que consta que terá sido o primeiro emblema a abraçar.

 

Ora, saltitar não é o mesmo que jogar futebol. Corridas desenfreadas de uma trupe de Forrest Gumps esbaforidos – “Run, Forrest, run” - também dificilmente o serão. Foi o que terá pensado o Ivic, que mal havia posto pé na Cesta do Pão, e logo tratou de “encolher” o rectângulo de jogo.

 

No entanto, por vezes é efectivo, e permite alcançar resultados, contrariando de certo modo aquela outra teoria estapafúrdia da “nota artística”, parida pelo mesmo individuo.

 

Melhor ainda, é com este futebol que o povão vibra. Muita corrida, forte pressão ofensiva, o adversário permanentemente encostado às cordas, ou no caso, à sua baliza, e frequentemente, depois de exaurido, esmagado, espezinhado sem dó nem piedade até ao limiar da humilhação. Sangue, como dizia aqui há uns anos o Nuno Graciano, muito sangue, é o que o povo quer.

 

Ah, e convém não esquecer umas ajudazinhas, que aqui e além, concorrem para aquela parte do encostar às cordas, do esmagamento e do espezinhamento.   

 

É, no fundo, o tipo de futebol que mais agrada aos seus adeptos. Preenche-lhes os egos e simultaneamente, o do treinador. Sim porque há que não esquecer a vertente egocêntrica da questão.

 

Há que não esquecer que estamos em presença do arquétipo do “bullied”, que passa a “bully”, e se transforma no macho alfa da matilha, um verdadeiro galifão de crista. Uns seguem-no porque não sabem mais, e agrada-lhes o status quo, outros porque lhes convém.

 

E assim sendo, torno a perguntar: quem arrisca mais? Quem mais dá ao público com regularidade aquilo que ele quer, ou quem se marimba para os adeptos e fiel às suas convicções, somente no final atinge o nirvana?


Nota: Com um bocado de sorte, ou azar, tudo dependerá da perspectiva, ainda é capaz de vir a haver mais um capítulo dentro em breve.

 

As venturas e as desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) – O Início

24
Jan13

Depois da exibição medíocre de ontem, na noite escura e chuvosa de Setúbal, não admira que o brilho resplandecente do resultado obtido tenha encandeado alguns órgãos da dita comunicação social, tais as dificuldades que denotam para reproduzi-lo nas suas primeiras páginas.

 

Salva-se “O Jogo”, que mais não seja, mas do qual costumam coexistir duas versões geograficamente distintas, de que só conheço a que se segue.

 

 
 

 

O FC Porto alcançou o primeiro classificado no topo da tabela, e é segundo ex-aequo, tendo em conta a diferença de golos marcados e sofridos? Bah! O Levezinho, que resolve, chegou à Invicta.

 

Está a apenas dois golos de passar a primeiro de facto, ainda que ex-aequo? Sim, sim. E o Jesualdo? O que é ele anda a fazer?

 

Jogámos sem o James Rodriguez, sem o Fernando, sem o Atsu, sem o Varela, excepção feita ao lance do penálti, sem o Kelvin, à parte o penteado, e já agora, sem o Izmaylov? E depois? O Maicon até regressou.

 

O Jackson Martinez é, neste momento, o melhor marcador da prova? Balelas! Imaginem o forrobodó que para aí andaria se fosse o Cardozo, com penáltis e golos fantasmas à mistura…

 

Business, as usual, como sempre.

 

Também não tardará muito para que mais uma saraivada de comentários depreciativos se abata sobre o nosso treinador.

 

 

Recordo o que dele dizia Miguel Sousa Tavares, na sua última crónica, que [é] bom a dar consistência à equipa; é mau a dar-lhe criatividade, a correr riscos necessários, a apostar e a desamarrar os jogadores de desequilíbrio”.

 

A imagem generalizada, é a de que Vítor Pereira é temeroso, por contraponto com o treinador do nosso principal adversário, um caso paradigmático de temeridade.

 

Será assim? Será o timoneiro da nossa nau, assim tão avesso a correr riscos?

 

Quem tem por hábito visitar este humilde poiso, terá percebido que não morro de amores por ele. É verdade. Porém, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, e além disso, não suporto que o comparem a outros, designadamente ao tal, elevando este aos píncaros, e rebaixando o nosso. É coisa que me irrita solenemente.

 

Mas afinal, qual dos dois corre verdadeiramente mais riscos? É a análise que proponho, tendo em conta os seguintes parâmetros:

 

- características das equipas/modelo de jogo;

 

- apreciação do modelo de jogo pelos adeptos;

 

- gestão do plantel;

 

- lançamento de novos jogadores;

 

Vejamos então.

 

Modelo de jogo.

 

Conforme escrevi no último texto, o sumo que retirei da leitura dos três trechos então reproduzidos, no que toca às características das duas equipas, resume-se em parte, a que a nossa está mais talhada para jogar com equipas da sua igualha ou até ver, de nível superior, ao passo que o adversário conveniente dos nossos rivais será tendencialmente da sua categoria para baixo.

 

 

Ora bem, atenta aquela que é a realidade do nosso panorama futebolístico, como ontem pudemos sobejamente constatar, e pensando apenas na Liga Zon Sagres, o nosso modelo de jogo estaria ajustado a quantos jogos? Com boa vontade, seis. E ainda há alguns que fazem o possível por reduzir esse número.

 

Comparativamente, do outro lado passar-se-á exactamente o inverso. Tomando como o exemplo o recente clássico, o modelo da cavalgada heróica, se algumas dificuldades experimentar na sua implementação, resumir-se-ão a apenas esses mesmos seis jogos, quando não forem menos.

 

A vocação da nossa equipa direcciona-a claramente mais para as competições europeias, do que para as internas. Só que, a essa escala, quase tudo pode acontecer, desde Dínamos de Zagreb a Apoeis.

 

O grau de aleatoriedade da aposta é sempre, necessariamente mais elevado.

 

Assim sendo, quem arrisca mais?


Nota: Com um bocadinho de sorte, os demais pontos seguir-se-ão dentro em breve. A não ser que esta primeira parte dê azo a demasiadas reclamações…

Os grandes números e os pequenos homens

21
Jan13

Quem segue o futebol português, por há muito pouco tempo que o faça, facilmente se terá apercebido que se trata de solo fecundo, por assim dizer, para cenas, no mínimo, caricatas.

 

E não, não estou a falar da arbitragem de Duarte Gomes em Braga. Nesse capítulo, António Salvador, presidente do SC Braga, disse praticamente tudo o que havia para dizer:

 

“Em 10 anos nunca saí deste estádio tão indignado após uma vitória expressiva como esta. Foi uma arbitragem vergonhosa, tendenciosa mesmo, [Duarte Gomes] andou durante todo o jogo a tentar arranjar forma de expulsar jogadores do Braga e depois expulsou o Paulo Vinícius num lance em que ele não fez nada para isso. Se é falta, é cartão amarelo. É uma expulsão vergonhosa”.

 

”só no tempo do Calabote é que se usavam arbitragens destas, no futebol atual, no futebol moderno e credível, não pode haver».

 

 [Duarte Gomes] «teve este ano a pior nota de um árbitro, 1,9: não foi para a ‘jarra' e hoje fez a exibição que todo o país viu”.

 

Os espaços que ficaram por preencher, o Zé Luis, no Portistas de Bancada, o Anti-Lampião, e o Tasqueiro Ultra-Copos, no Tasca de Palmeira, trataram de o fazer na perfeição.

 

Pela minha parte, um bocadinho por antecipação, dei uma modesta colaboração no texto "Quem melhor?!"

 

Posto isto, resta-me agora apenas acrescentar que Duarte Gomes integra a lista de Fontelas Gomes, a única que vai candidatar-se à presidência da APAF, na qualidade de secretário do Conselho Deontológico e Disciplinar, de que também fazem parte Pedro Proença, João “pode vir o João” Ferreira e Carlos Xistra.

 

A APAF era, e julgo que ainda será, um dos elementos do colégio eleitoral que sufraga a direcção da Federação Portuguesa de Futebol.

 

É claro, que tudo isto não passa de um mero fait divers

 

Assim como o facto de o Conselho de Arbitragem integrar, na sua secção profissional, nomes como os de Lucílio Baptista ou Luis Guilherme.

 

Por algum motivo, o próprio Pedro Proença tem dúvidas sobre se o futebol português merece reconhecimentos internacionais, como o de melhor árbitro do ano.

 

Afinal de contas, quem faz “uma crítica construtiva ao modelo de avaliação e funcionamento dos observadores em Portugal”, nos termos em que este o fez – “Sinto que os observadores estão condicionados porque querem ser da primeira categoria quando não têm qualidades para tal. (Tentam agradar) a quem está no poder” - e vê arquivado o processo de inquérito levantado, dá não só mostras de ser profundamente conhecedor da forma como as coisas funcionam, como lhe assiste toda a legitimidade para se pôr em bicos de pés.

 

Como ver colocada em causa por aquela afirmação a “competência e idoneidade dos observadores”?

 

É claro que depois, pouco surpreende que se veja envolvido em cenas rocambolescas como a não nomeação para o recente clássico da Cesta do Pão ou o adiamento do nosso jogo em Setúbal.

 

Comecemos pelo fim, pela não nomeação. Vítor Pereira diz que Pedro Proença estava de férias, com pedido de dispensa metido e autorizado, e como tal, não foi nomeado.

 

Vem Pedro Proença e diz que não senhor, acabem lá com esse mito das férias. Estava ausente do país, mas perfeitamente disponível para apitar o clássico. Porém, é o próprio que admite “que dificilmente podia ser o árbitro escolhido, uma vez que esteve recentemente no V. Setúbal – FC Porto”.

 

Em seguida, surge uma nova “notícia”, de origem desconhecida, que dá conta de que terá sido Pedro Proença a pedir dispensa no período de 12 a 19 de Janeiro, "por motivos profissionais". A partida na Cesta do Pão disputou-se a 13 de Janeiro.

 

Este é o protótipo do “caso” do futebol português. Aquele que não tem caso nenhum, mas que ainda assim, faz caso.

 

Seria facílimo tirar a limpo se houve ou não o tal pedido de dispensa, e a coisa morreria por aí. No entanto, como convém nestas situações, o último comunicado sobre nomeações de árbitros existente no site da Federação Portuguesa de Futebol, remonta algures a meados de Dezembro. Os da Liga sempre estavam mais actualizados…

 

No entanto, e caso a Comissão de Arbitragem fosse fiel aos seus próprios critérios, o que, como se viu, pelo menos com Duarte Gomes, não acontece, a chave de toda esta charada estaria, quanto a mim, naquilo que o próprio Pedro Proença admite:

 

“dificilmente podia ser o árbitro escolhido, uma vez que esteve recentemente no V. Setúbal – FC Porto”

 

Mas, e esteve?

 

 

 

Vítor Pereira contaria que sim. Tanto assim é que o indicou para esse encontro, e dessa forma, estaria consequentemente afastado do clássico.

 

Contudo, o São Pedro, que não Proença, e todos os intervenientes directos na partida, trocaram-lhe as voltas nesse dia. As bátegas de água que se abateram sobre o Bonfim inviabilizaram a realização da partida.

 

Alguns, a maior parte, diria mesmo, viram nessa situação o dedo ardiloso do FC Porto, mancomunado com o árbitro, por forma a evitar prejuízos maiores.

 

O que é certo é que, nenhum dos que directamente iam intervir no jogo, desejavam ardentemente que ele se realizasse.

 

Do nosso lado seria sempre um jogo de risco. A repetição da piscina de Coimbra, sem Duarte Gomes e com pouca confiança no Silvestre Varela, para sacar um pontapé como aquele que então nos salvou.

 

Os da casa, teoricamente beneficiados pelo mau tempo, como fizeram questão de afirmar os comentadores, pois sempre é mais fácil num terreno daqueles, destruir que construir, e com fé, talvez saísse alguma coisa, também não tinham grande interesse em jogar naquele dia.

 

Desde as sete horas da tarde que corria em Setúbal, que não iria haver jogo. Público, nem vê-lo, e a boa casa eventualmente perspectivada foi-se, levada pela enxurrada.

 

O árbitro, apitando em Setúbal, automaticamente ficaria de fora do clássico.

 

A quem interessaria então a realização desta partida, naquelas condições?

 

Que tal ao interveniente indirecto omnipresente do nosso futebol? Entre ver um rival directo estrebuchar sob a intempérie, e um árbitro indesejado, afastado de um jogo importante, ou conquistar o título de campeão de Inverno, passar o Natal e entrar no Novo Ano em primeiro lugar, com três pontos à maior, ainda que com um jogo a mais, o que seria preferível?

 

Melhor, só a solução preconizada por esse acérrimo defensor da verdade desportiva que é Rui Santos: falta de comparência a ambos. Tudo em prol da verdade desportiva. Resta saber qual…

 

Ou seja, Vítor Pereira, e sabe-se lá mais quem, criaram todas as condições para que Pedro Proença, não marcasse presença no clássico.

 

Pedro Proença, e sabe-se lá mais quem, criaram todas as condições para que estivesse presente no clássico, e simultaneamente, a fazer fé no tal pedido de dispensa, para que não estivesse.

 

O ónus da decisão recaía sobre o primeiro, que decidiu, e ficou para si com o odioso da questão.

 

Perante situações desta natureza, há sempre quem prefira acreditar em coincidências e nos efeitos paliativos da verdade estatística da lei dos grandes números.

 

Como se um qualquer karma cósmico universal assim o determinasse, acreditam que no infinito, ou quando se fizerem as contas finais a esta Liga, which ever comes first, os erros a favor e contra, tendencialmente terão saldo nulo.

 

Por mim, tendo em conta o esmero e a antecipação com que vou vendo estas situações serem repetidamente preparadas, tenho sérias dúvidas de que a lei dos grandes números se aplique a pequenos homens.

Vítor: carago não, carago!

18
Jan13
 

Vítor, meu Caro,

 

Há um provérbio chinês, sábio como o são todos eles, que diz que existem quatro coisas que não se recuperam: a pedra, depois de atirada; a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida; e o tempo, depois de passado.

 

O que está feito, está feito, e o que está dito, está dito. Não há volta a dar. Essa é uma viagem que não tem regresso.

 

Não te dei os parabéns pelas palavras que proferiste após o jogo na Cesta do Pão, aproveito agora para tos dar. Foram ditas na altura certa e direitinhas à mouche.

 

Por que carga d’água é que vens agora admitir que te exaltaste? A tua admissão, por muito ética e moralmente correcta que seja, não passa de um cheque sem cobertura no banco da superioridade daqueles, a quem eventualmente a dirigiste.

 

Ainda que isso te alivie de alguma forma a consciência, e idiossincraticamente, sejas intrinsecamente um sujeito polido e simpático, até para aqueles que, na primeira oportunidade, te reduzirão a caca de galinha, ou outra ave qualquer, lembra-te que não estás nisto sozinho.

 

Ora, lê lá o texto que se segue, e de certeza que compreenderás onde quero chegar:

 

 

O nosso destino

 

Vou ver o Porto ao estádio da luz desde que me conheço. Parte das minhas memórias apesar de vividas são contadas. Cada vez que se fala do Cubillas cá em casa, o meu pai recorda-me dos seus feitos e de como eu festejava os golos e as fintas do grande peruano que fazia sempre grandes exibições cá por Lisboa. Eu até sou capaz de descrever muitos dos lances, mas não sei dizer se de facto me lembro deles ou se foi o meu pai que mos plantou na memória.

 

Lembro-me, porém, perfeitamente do dia em que percebi que alguma coisa tinha mudado nas nossas vindas ao local referido (confesso que me custa escrever o nome do campo). Foi em Janeiro de 1979. Já era um rapaz espigadote. Apanhei a maior molha da minha vida, levei uns tabefes no autocarro, mas cheguei com um sorriso a casa que dava para alumiar o meu bairro.


O resultado não foi grande coisa: empatamos. O slb marcou de penalty para os lampiões e o grande, o enorme Duda, o dragão de S. Siro, marcou para nós a passe do Costa. O Toni partiu a perna ao Marco Aurélio e o Frasquinho encheu de merecida porrada o Alves.


O Porto já tinha acabado com a malapata no ano anterior mas só naquele jogo senti que as coisas tinham mudado duma vez por todas. Foi a arrogância com que entramos em campo, o grande Rodolfo a estender o dedo à lampionagem, o Pedroto a rir dos insultos. Já não havia medo, nem respeito, nem nada. Havia um jogo para ganhar e tanto dava para os nossos jogadores terem pela frente umas camisolas vermelhas, verdes ou ás riscas, estar naquele ou noutro estádio qualquer. Depois desse jogo tive no dito sítio uns desgostozitos (há um jogo em 87 que ainda me está entalado ), uns jogos que me enfureceram por falta de garra, mas nunca mais senti que os meus tivessem medo (e deus sabe que sou suficientemente velho para ter visto isso).


Esta gigante introdução para falar do jogo de passado domingo de que não vou falar. Durante o almoço desse dia deu-me para falar aos meus filhos de jogos de antigamente, do algum receio que eu sentia quando era novito quando via o FC Porto cá em Lisboa e do tal jogo de 1979. Depois lá lhes fui dizendo que não achava que a nossa equipa estivesse a jogar grande coisa e que talvez as coisas não corressem bem.


Apesar de nesta casa ainda haver respeito, fui brindado com uns impropérios e umas larachas do género: “oh pai, tu és do tempo das chuteiras de travessas” ou “para estes tristes até tu chegavas”. O pior, corrijo, o melhor foi ver a cara de espanto dos rapazes e da rapariga, como se não estivessem a perceber bem o que eu estava a dizer. Para eles é tão evidente que somos melhores que eles, a confiança deles nas nossas camisolas é tal, que pura e simplesmente não percebem receios ou inseguranças.

 

Saíram de casa, foram ter com a nossa rapaziada à Pontinha, mas antes de sair o meu filho do meio veio-me dar um beijo e com a minha camisola do Porto de 87 vestida mostrou-me o brasão e disse-me: “o que conta é isto, até podiam ser mil contra um. Vamos ganhar”.


Sentado na merda do camarote, longe dos meus que saltavam dentro da jaula para onde fizeram questão de ir, vendo a naturalidade com que os nossos jogadores comiam vivos os adversários e lembrando o que o meu rapaz me tinha dito fiquei com a certeza que a nossa história ainda está a começar. Aquela camisola é mesmo mágica e os nossos filhos sabem isso melhor que nós. E eles vão viver mais alegrias que nós. É mesmo o nosso destino.”

 

(Pedro Marques Lopes, no Bibó Porto, Carago!)

 

Percebes Vítor? Há toda uma nova geração, ou por esta altura, se calhar até já serão várias, que não sabe o que é ser subserviente perante aqueles aos quais te justificas. Porque não tem que o ser. Porque não lhes deve vassalagem, seja a que título fôr.

 

Tu estás nisto com eles. Connosco. Estamos todos. Somos Porto, carago!

 

Carago não, carago!

 

Por isso, tem lá santa paciência, faças o que fizeres daqui para a frente, não repitas a gracinha!

 

…e livra-te de perder esta Liga!

Só para que conste

12
Nov12

Esta temporada começou bastante equilibrada, do ponto de vista das nomeações arbitrais do Vítor Pereira.

 

Para os nossos primeiros dois embates, dois árbitros de Lisboa - Duarte Gomes em Barcelos e o Hugo Miguel, no Dragão contra o Vitória de Guimarães. Para o segundo classificado, dois árbitros do Porto – Artur Soares Dias, na recepção ao SC Braga, e Jorge Sousa para a deslocação à outra banda, a Setúbal.

 

À terceira ronda, árbitros de Setúbal para todos: nós, apanhámos com o João “pode vir o João” Ferreira, em Olhão. A eles, saiu-lhes o Bruno Esteves, na Cesta do Pão, contra o Nacional da Madeira.

 

Na quarta jornada, o Manuel Mota, de Braga, esteve no Dragão, e o Carlos Xistra, acompanhou as papoilas, no seu salto a Coimbra.

 

Até aqui tivemos um, chamemos-lhe “critério”, mais ou menos uniforme nas nomeações para os jogos de ambos os emblemas, ou seja, árbitros internacionais para os jogos fora de casa e não internacionais, para as partidas disputadas entre muros.

 

A excepção foi a ida do SC Braga aos arrabaldes de Carnide, o que até é compreensível, tratando-se, em princípio, de dois potenciais candidatos ao título.

 

 

Mete-se a quinta ronda, e a antecede-la eis as declarações do Rui Gomes da Silva, a ditar numa espécie de caderno de encargos dedicado ao Vítor Pereira, os juízes que, já agora, se fizesse o obséquio, aquele se poderia abster de despachar para jogos do seu clube. A saber: Carlos Xistra, Artur Soares Dias, Olegário Benquerença, Pedro Proença, João Capela, Rui Silva e Hugo Miguel.

 

Duas notas sobre estas declarações. Parece haver lá para aqueles lados, uma certa propensão para a diarreia mental à quarta jornada.

 

Quem não se recorda, aqui há duas épocas atrás, o apelo encarecido aos adeptos para não acompanharem o clube nas suas deslocações? Pois é, foi também à quarta jornada. À quinta, estava o Vítor Pereira a justificar-se publicamente. Ainda por cima, a coisa parece resultar.

 

Na altura estavam 9 pontos atrás de nós, e na ressaca de uma derrota em Guimarães. Desta vez, até só estavam a dois pontos, mas aquele empate em Coimbra…Podia lá ser!

 

Na época passada, também estavam a dois pontos de distância, mas, valei-nos isso, o triunfo em Guimarães, foi o Imodium, que evitou males maiores.

 

Outro ponto interessante, pelo menos na minha perspectiva, é que dos árbitros arrolados, apenas o Xistra e o Artur Soares Dias marcaram presença no que vai decorrido de temporada, em jogos do dito clube.

 

E em partidas do FC Porto, só o Hugo Miguel e o João Capela. Interessante também é o caso do Rui Silva, que aparece metido nestes assados quando apenas anda nestas andanças, nada mais, nada menos, que desde a época transacta, e só leva no curriculum dois singelos desafios apitados entre os clubes maiores, mais grandes e afins, cá da terra.

 

 

Pronto, ambos tiveram o nosso clube como interveniente, e ambos foram no Dragão (Gil Vicente e União de Leiria), mas daí até à inclusão naquele rol… Coitado, deve estar mais pequeno que o bago de milho!

 

Terminado este breve parêntesis, voltemos à quinta jornada. O que aconteceu de marcante nessa ronda?

 

Talvez nada de especial. Ou talvez não.

 

O certo é que para as idas do FC Porto a Vila do Conde e do outro clube a Paços de Ferreira, ao contrário do que vinha sucedendo até aí, foram nomeados dois árbitros não internacionais, respectivamente, Bruno Esteves e Marco Ferreira.

 

Por coincidência, ou talvez não, perdemos aí dois pontos, e fomos alcançados no topo da tabela pelo nosso rival, que desde então, nunca mais descolou.

 

Por coincidência, ou talvez não, nas quatro partidas subsequentes, das quais, do nosso lado, três em casa (Sporting, Marítimo e Académica), foram nomeados um internacional – Jorge Sousa, para o jogo com os viscondes, o que é normal, vista a possibilidade, cada vez mais cedo, mais remota de chegarem ao título - e dois não internacionais – Cosme Machado e Hugo Pacheco.

 

Para o jogo fora de portas, com o Estoril-Praia, o lisboeta João Capela, de má memória desde Olhão na época passada.

 

Do outro lado, dois jogos em casa e igual número fora. Para o despique com o Beira-Mar na Cesta do Pão, foi nomeado Rui Costa. Um não internacional e, simultaneamente, o homem que não viu as cenas edificantes protagonizadas pelo protagonista do costume, após o encontro com o Nacional da Madeira. Perfeitamente natural.

 

Contra Gil Vicente, fora, Vitória de Guimarães, em casa, e Rio Ave, novamente fora, foram indigitados, Vasco Santos, João “pode vir o João” Ferreira e Bruno Esteves. Ou seja, um recém internacional, um internacional e um, até sou capaz de apostar, futuro internacional.

 

Ora, se o Vitória entrou para o seu jogo no quinto lugar, a que se deve a necessidade imperiosa de termos um portador de insígnias nesse jogo?

 

O Bruno Esteves, não sendo ainda internacional, havia estado nos Arcos quando nós lá fomos. E deu mau resultado. Agora regressou. Terá sido uma tentativa de equilibrar as coisas? Esperaria o Vítor Pereira que o homem, sendo de Setúbal, tirasse pelos da casa nalgum súbito ataque de simpatia com a indumentária?

 

Tudo isto são, é claro, meras conjeturas, e devaneios de quem não tem (era bom!), mais o que fazer.

 

O certo é que, desde o Xistra, à quarta jornada, por incrível coincidência, ou talvez não, a última em que aquele clube perdeu pontos, nenhum dos árbitros ostracizados por Rui Gomes da Silva foi nomeado, e nós já comemos com três, dos quais as recordações que temos não são claramente as melhores: Bruno Esteves, Jorge Sousa e João Capela.

 

O certo é que qualquer um dos árbitros nomeados para as últimas cinco jornadas daquele clube, e com especial destaque para as duas derradeiras, veste na perfeição às avessas, a fatiota talhada por Rui Gomes da Silva.

 

É ainda certo, como se destacou amiúde na comunicação social, ao longo do pretérito fim de semana, que o Mona Lisa, terminou de cumprir o castigo que lhe foi imposto como consequência da não agressão ao árbitro alemão.

 

Sem querer dar demasiada a esse facto, convirá não esquecer que, há não mais que uma semana atrás, aquele elemento era mais importante para o seu treinador, que o Witsel ou o Javi Garcia, ou os dois juntos. Agora, alguém terá dito ao treinador, que talvez essa não fosse a melhor maneira de motivar os que jogam, e já não é bem assim.

 

 

Associando as duas coisas, como disse, sem querer dar-lhe mais importância do que merece, não seria de todo desprezível a possibilidade de aguentar as pontas, e não perder pontos, no mínimo até aqui. Seria bem lixado perdê-los logo duas jornadas antes do seu regresso.

 

Mas isto, é claro, não passam de deambulações paranóicas. 

 

Agora, depois de uma sequência Marco Ferreira-Rui Costa-Vasco Santos-João “pode vir o João” Ferreira e Bruno Esteves, quem será o freguês que se segue para o Olhanense? Soares Dias? Duarte Gomes?

 

E para a nossa ida à Pedreira? O Olegário, que mais uma vez anda longe das vistas? Ou o Pedro Proença? Ou o Xistra. Ainda não nos tocou o Xistra esta época. Era mesmo ao queres…

 

Para terminar, só uma breve nota relativamente aos três novos internacionais e ao Bruno Paixão.

 

 

 

Do Hugo Miguel e do Vasco Santos, não há grande espanto. Há algum tempo que se percebia que eram os delfins de Vítor Pereira, e seria uma questão de tempo até ostentarem as insígnias fifeiras. Tal como o Bruno Esteves…

 

Em 2011/12, não houve promoções, mas na primeira oportunidade, eles aí estão. O Marco Ferreira, a partir do momento em que a Liga está nas mãos de quem está, era perfeitamente expectável que ascendesse à internacionalização.

 

Quanto ao Hugo Miguel, estranho muito a sua inclusão na lista vermelha. Nas últimas quatro temporadas fez seis jogos da nossa equipa, três dos quais em 2009/2010, época em que nem sequer fomos campeões.

 

De então para cá, constam mais três, excluindo a corrente época. Dois em casa no pretérito campeonato (Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães), e outro em 2010/11, no Funchal, contra o Marítimo. Em todos eles, não me recordo de erros clamorosos a nosso favor.

 

Má memória a minha, ou lapso do Rui Gomes da Silva?

 

No que toca ao Bruno Paixão, há quem queira veja na sua despromoção o dedo do FC Porto ou a marca distintiva do seu jugo sobre o mundo da arbitragem.

 

É compreensível. Porém, recordo que havia por aí quem pedisse muito mais que a sua despromoção.

 

E que esse alguém, ao que parece, faz gosto em visitar a Rua Alexandre Herculano. Há falta de melhor…

As opções de Vítor Pereira, o outro (ou "A arte de quem parte e reparte")

28
Ago12

Mau. Vir falar de arbitragem logo à segunda jornada da liga, é algo que me desagrada. É uma postura um tanto ou quanto calimera. Mas quando à segunda jornada, há matéria suficiente para fazer um ponto de situação, é sinal que algo não está bem.

 

Esta estória começa com a nomeação do Olegário Benquerença para a final da Supertaça Cândido de Oliveira. Achei surpreendente.

 

O Olegário, ao longo da temporada transacta apitou apenas três jogos que envolveram os primeiros classificados: o nosso jogo em Guimarães, na ronda inaugural, a nossa ida a Braga, à 26.ª jornada, e o jogo do segundo classificado a Vila do Conde, na 28.ª.

 

O homem andou lesionado, até chumbou em testes físicos, mas no essencial, foi completamente ostracizado após o tal famoso jogo em Guimarães, de há duas épocas atrás, que motivou o patético apelo aos sócios de um determinado clube, para não assistirem aos jogos fora de portas da sua equipa.

 

A coisa foi de tal maneira que eu próprio, questionei no texto "Onde está o Wallygário?", por onde andaria. Na altura, ninguém se deu ao trabalho de o descobrir. Mas ele estava lá (é só confirmar abaixo…).

 

 

E também esteve na Supertaça. O jogo propriamente dito não teve nada de especial, em matéria de incidências arbitrais, e ao que parece o Olegário terá sido o segundo melhor classificado entre os árbitros principais na época passada.

 

Como Pedro Proença, o primeiro classificado arbitrara a edição de 2010/2011 (em que também foi o primeiro), possivelmente, não quiseram repetir a dose.

 

As nossas anteriores vitórias foram obtidas sob os auspícios do João “pode vir o João” Ferreira e o Jorge Sousa. Portanto, o critério, com excepção da excepção do João, parece ser semelhante.

 

O que é estranho é o Olegário ter sido o segundo melhor, andando tão arredado dos palcos mais importantes. Será que estamos numa espécie de “Perdoa-me”? Estará o Olegário de regresso à ribalta? A que preço? Mais do que uma homenagem na AF do Porto? Ou menos?

 

Depois veio a Liga. Nos nossos jogos tivemos dois árbitros de Lisboa (Duarte Gomes e Hugo Miguel), e os nossos rivais mais directos dois do Porto (Artur Soares Dias e Jorge Sousa).

 

Para o Sporting foram nomeados um de Lisboa (João Capela) e outro da Madeira (Marco Ferreira). Por sua vez, o SC Braga teve um do Porto (Artur Sores Dias) e um de Portalegre (Paulo Baptista).

 

Nada de mais. Aquilo que se vê aparenta ser a manutenção das premissas anteriormente aplicadas pelo Vítor Pereira: árbitros internacionais para os jogos fora de casa e para jogos entremuros com adversários directos, e não internacionais para partidas disputadas em casa, onde teoricamente, terão a vida mais facilitada.

 

No entanto, as diferenças são óbvias. Nomear Duarte Gomes para a nossa estreia, e logo em Barcelos, onde sofremos a única derrota na Liga passada, tem que se lhe diga. O Duarte Gomes, como todos sabemos, revela, como tantos outros, uma estranha apetência para marcar penáltis em catadupa, quando confrontado com a cor vermelha, e uma exacerbada tendência para errar em nosso desfavor, e depois vir desculpar-se pelo Facebook.

 

Dois penálties por assinalar a nosso favor seria o mínimo expectável.

 

Os outros três, tal como notei no texto anterior, em relação a alguns jogadores do nosso plantel, partem todos eles a cada temporada, de há umas épocas a esta parte, com expectativas elevadas.

 

Hugo Miguel quer chegar a internacional. Artur Soares Dias, tendo alcançado, apesar da sua juventude, o estatuto de internacional, terá a esperança de se afirmar definitivamente no panorama da arbitragem, e se em 2010-2011 foi dos mais solicitados, a época que passou não lhe correu tão de feição.

 

Curiosamente, ou não, apareceu a repetir presença na Cesta do Pão, no encontro inaugural do clube mais grande do Mundo dos arredores de Carnide. Talvez não se recordem, mas aconteceu o mesmo em 2009-2010.

 

Na altura, o adversário foi o Marítimo, e então o Soares Dias limitou-se a não descortinar uma entrada assassina do Cardozo sobre o Alonso, que lhe devia ter valido, logo ali, o vermelho directo, posteriormente complementada com uma simulação de penálti, que poderia ter dado azo à sua expulsão por acumulação de amarelos.

 

Não fui eu, mas o sim o Rui Santos, essa alcoviteira-mor do futebol nacional, que, na altura, o considerou desaconselhado para jogos daquele clube. Ele lá terá as suas razões.

 

Jorge Sousa, depois de ter sido in illo tempore, o melhor entre os seus pares, almeja(rá) alcançar novamente o topo.

 

Os resultados da gestão destas expectativas foi o que se viu. O Hugo Miguel deixou passar mais uma grande penalidade a nosso favor, ao passo que o Artur Soares Dias se limitou a expulsar o homem errado do SC Braga, e o Jorge Sousa a expulsar um do Vitória de Setúbal aos sete minutos de jogo.

 

Nem vale a pena entrar em grandes pormenores sobre o Jorge Sousa, basta que (re)vejam o seu desempenho no nosso jogo na Calimeroláxia, duas épocas atrás, ou o penálti sobre o Aimar, em Leiria, à três, para se perceber para que lado pende.

 

O primeiro golo dos cinco que o nosso rival obteve, não obstante a exaltação que motivou a algunstão submissos noutras alturas, foi um mero bónus.

 

O facto de o Amoreirinha se querer tornar um lídimo sucessor dos Veríssimos e dos Marcs Zoros, que passaram pelas margens do Sado, também não passará certamente de mera coincidência.

 

Portanto, tenho para mim que, vergonha, vergonha, não é o José Pratas a correr à frente de um pelotão de jogadores do nosso clube.

 

 

Vergonhosa, continuo a dizê-lo, é a predisposição que certos árbitros continuam sistematicamente a revelar para errar a favor de uns e em desfavor de outros, e que continuem a ser apontados para jogos dessas mesmas equipas.

 

Vergonhoso e preocupante é que quem os nomeia, não sendo bruto e sem dúvida, que tendo arte, continue a nomeá-los, muitas vezes, cirurgicamente quando e para onde as conveniências ditam, sem qualquer tipo de pudor.

 

As opções de Vitor Pereira (ou "A arte de manejar pinças com luvas de boxe calçadas")

26
Ago12

Pois é, foram precisos três jogos oficiais, para, acho eu, finalmente perceber o que queria dizer o nosso treinador, quando afirmava que a pré-época servia essencialmente, para preparar a equipa para o jogo da Supertaça Cândido de Oliveira.

 

E o que queria dizer, era isso mesmo.

 

Com os três internacionais brasileiros (Hulk, Danilo e Alex Sandro) nos Jogos Olímpicos, e com os internacionais portugueses (Miguel Lopes, Tolando, João Moutinho e Varela) a apresentarem-se mais tarde no Dragão, pouco mais lhe restaria fazer senão trabalhar com os que sobejavam, preparando-os para conquistar mais um título. Como acabou por acontecer.

 

 
A equipa que alinhou perante a Académica de Coimbra, se descontarmos a entrada do Miguel Lopes para o lugar do Djalma (como acontecera contra o O. Lyon), acabou por ser aquela que mais rodou na pré-época, e com inteira justiça, quanto a mim, para aqueles que cá estavam desde o início dos trabalhos. Lembro-me, designadamente do Defour, que manteve o seu lugar, apesar de já cá estar o João Moutinho.

 

O jogo foi sofrido, e não causou grande surpresa ver na segunda parte a mesma asneirada que havia sido ensaiada no jogo de apresentação, ou seja, um ataque com o Djalma e o Silvestre Varela, a jogarem em simultâneo, com o James por detrás, a organizar jogo, que, como então se percebera, estaria fadado ao insucesso.

 

Entre o jogo da Supertaça e a primeira partida da Liga Zon Sagres 2012-2013, é emprestado o Djalma, numa opção que, confesso, não entendi. Não por causa do que o próprio jogador possa ou não ser ou valer, enquanto futebolista, ainda que pessoalmente prefira um Djalma que dá o que tem e pode, a um artista qualquer que joga quando muito bem quer e lhe dá na real gana. 

 

Estranhei este empréstimo porque o angolano fez praticamente toda a pré-época na posição de lateral-direito, que não é a sua, e em que não lhe agradava jogar, conforme o próprio a dada altura admitiu. No jogo da Supertaça, quando foi necessário reforçar o ataque, foi mesmo a primeira opção, e menos de uma semana depois, acaba a dar com os costados na Turquia. Estranho.

 

  

Para Barcelos, já cá estavam os brasileiros. Contudo, tal como escreveu o Jorge, na antevisão do jogo, também a mim me parecia, que mais não fosse por uma questão de justiça, seria de manter a equipa que jogou na Supertaça. O Alex Sandro e o Hulk seriam sempre potenciais candidatos a entrar no decorrer do jogo, consoante as coisas evoluissem.

 

O Hulk acabou por jogar de início, até porque o Atsu foi jogar pelo seu País à China, ou coisa que o valha, e o Alex Sandro, esse sim, entrou na segunda parte. Com a entrada deste último nos convocados, saiu muito naturalmente o Rolando. Se é a quarta opção para o centro da defesa, os outros três estão a jogar de início, e há mais uma opção para o flanco esquerdo da defesa no banco, que falta é que fazia lá o Rolando?

 

Por sua vez, a exibição pobre do João Moutinho acabou por explicar a sua não entrada no onze inicial da Supertaça. Isso, ou aquilo que para mim, foi o mais estranho.

 

O João Moutinho, na véspera de jogar pela Selecção, é suplente na Supertaça, para depois jogar 73 minutos num encontro particular contra o Panamá, e a seguir ser titular contra o Gil Vicente.

 

Será que esteve a ser poupado para a Selecção? Depois de mais de 2/3 do jogo em campo, quando no FC Porto vinha a jogar 30 minutos, dá-se-lhe a titularidade em Barcelos? Porquê?

 

 

Para o terceiro jogo oficial, no Dragão, contra o Vitória de Guimarães, tivemos finalmente a nossa melhor equipa toda disponível. E foi o que se viu. Poderá ser discutível a entrada do Atsu, em detrimento do James, mas, a meu ver, foi a melhor opção. O colombiano não é exactamente um extremo, e é mais um que também já fez saber que gosta é de jogar a "10". Assim sendo, é o substituto natural do Lucho. Logo, entra, quando este rebentar, e será bom que não se queixe.

 

(Re)vendo estes três jogos, fico com a nítida sensação de que, efectivamente, o Vitor Pereira preparou inicialmente a equipa, apenas para o jogo da Supertaça. Em Barcelos, como é seu apanágio, e quiçá, com o resultado da época passada na memória e o Duarte Gomes no pensamento, entrou com cautelas e caldos de galinha, para depois, no primeiro jogo em casa, soltar as feras.

 

Para já, o nosso treinador faz-me lembrar o "idiota da aldeia", dos Monty Python. Um arranque de temporada timorato e temeroso, com os adeptos a cairem-lhe em cima, ao melhor estilo da temporada passada, para depois, no Dragão, sacar uma daquelas exibições de ópera, e fazê-los meter a viola no saco. Pelos menos por uma semana. Será isso? Uma semana de cada vez, é o lema?

 

  

Vamos ver. Na próxima semana temos o final do mercado de transferências de Verão. Estes sete dias vão ser arrasadores, e nem vale a pena elevar muito as expectativas para Olhão, no fim de semana.

 

O Álvaro Pereira, já se foi, o Rolando, se não foi, também não conta para grande coisa, e o Iturbe parece, cada vez mais, ser carta fora do baralho. Ficam os que tem esperança de sair, e os que têm esperança que os primeiros saiam.

 

Jogadores como Miguel Lopes, Mangala e Defour, tendo em conta as opções do treinador, com certeza que já perceberam o seu lugar neste plantel, e não terão grandes esperanças de atingir a titularidade. O que dizer então de um Abdoulaye ou de um Castro?

 

O fosso que se cava entre os titulares e as segundas opções, começa a tomar proporções descomunais. Pior ainda, depois do 31 de Agosto, saindo um Hulk, um Fernando ou um João Moutinho, decididamente que vamos ter um plantel mais fraco. Mas, não saindo qualquer um deles, teremos, uma vez mais, alguns jogadores que, ou queriam, ou não se importariam grandemente de porventura mudar de ares.

 

Espero estar a ser pessimista, mas vejo no nosso plantel uma série de jogadores quase sem expectativas de virem a jogar, e outros tantos com expectativas, eventualmente frustradas, de irem jogar noutros lados.

 

Tudo somado, e acrescentado ainda a gestão atabalhoada dos recursos que tem ao seu dispor, tão característica do nosso treinador, parece-me que apesar de neste momento, termos uma excelente equipa, temos perante nós um belo dum barril de pólvora. Outra vez.

 

Oxalá me engane.