Há 25 anos atrás, nesta data, o ano lectivo estava a terminar. O 11.º ano não tinha corrido mal. Bem melhor que o 10.º, que fora um ano de transição. De escola, de ciclo de estudos, etc.…
A matemática continuava a ser o calcanhar de Aquiles. A Bobona Dentuça não dava tréguas, e os testes que fazia eram só para os crânios da turma. As explicações do Mestre Caniço ajudavam a desenrascar, mas a coisa permanecia colada a cuspo.
Éramos dois portistas na turma, eu e o João Paulo, e na outra turma de Contabilidade, havia o Nuno. Esta é que era uma grande inovação em relação ao Liceu e ao ciclo preparatório.
Porém, não haviam grandes discussões futebolísticas. O Nuno arrasava tudo e todos na turma dele, eu fazia a minha parte na minha. No fundo, quando o assunto era futebol, a dada altura a discussão descambava invariavelmente, para a gozação dos benfiquistas e sportinguistas, e o assunto morria por ali.
Só o Jorge, sportinguista e ceifado estupidamente tão cedo desta vida, é que tentava manter a coisa num plano de alguma seriedade. Ninguém o levava a sério, claro está.
O Carlinhos, outro sportinguista, e o Serginho Máfino, benfiquista e leitor andante do papel para forrar fundos de gaiolas de periquitos até aos dias de hoje, discutiam entre eles, e normalmente, a coisa acabava com a mochila do Sérgio, nos costados do Carlinhos, e mais um ataque de asma deste último.
Na realidade, o que o pessoal gostava era de acção. Era de jogar futebol e basquete, e às vezes vólei, porque haviam umas quantas miúdas giras que davam uns toques, e não de ficar a discutir o assunto.
Ser portista no Algarve já não era tanto, ser visto como uma aberração, agora era mais uma excentricidade.
Contudo, tinha vantagens. E essas vantagens eram acrescidas quando se tinha, como eu, um pai que na altura trabalhava na TAP.
Trabalhar na TAP, entre outras benesses, significava ter contacto com colegas em Lisboa e no Porto. Ora, por aqueles dias, para um colega no Porto, saber que algures no Algarve, havia um colega que tinha um puto que era portista (“doente”, segundo a douta opinião do meu progenitor), devia ser um fartote.
Então, de vez em quando, lá vinha qualquer coisa alusiva ao FC Porto. Ele eram galhardetes, pisa-papéis, bilhetes de jogos antigos, enfim, uma parafernália de peças de merchandising, como agora se diz.
Vai daí, ainda me estava a refazer da emoção da conquista da Taça dos Campeões, e da maravilha daquele toque de calcanhar do Madjer, quando, no dia seguinte pela hora do almoço, o meu pai entra em casa com uma folha de papel na mão.
A folha é a que abaixo se reproduz, e o que contém são as assinaturas dos heróis de Viena, jogadores e equipa técnica, recolhidas no avião que fez a viagem de regresso. Algumas são perfeitamente identificáveis, outras, até hoje não sei de quem são.
Infelizmente, para mim, não é o original. Esse estará certamente na posse de algum dos ex-colegas do meu pai, provavelmente algum dos Dragões da TAP, e terá um valor incalculável. Esta, é uma mera reprodução, recebida via fax, e mal tratada pelo tempo, logo o valor que tem é apenas sentimental.
Ainda assim, não é pouco, e por isso decidi aqui reproduzi-la.
Quanto ao colega do meu pai nunca tive oportunidade de lhe agradecer, nem sequer lhe fixei o nome, por isso, queria aqui deixar-lhe expresso o meu agradecimento por esta e por todas as outras peças que me enviou, e dizer-lhe que o puto algarvio portista, doente ou não, continua e continuará portista.
Um quarto de século depois, (como o tempo voa!) fica assim feita a minha singela homenagem aos heróis de Viena, pela mão dos próprios.
Somos Porto, Somos Campeões!
Somos Campeões, Somos Porto!
PORTO 1987-2012 : 25 ANOS NO TOPO DO MUNDO é o título do livro que vai ser apresentado na Avenida nos Aliados, mais exac...
. Porto 1987-2012 : 25 Anos...