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Diz, com razão, o Miguel Esteves Cardoso, que a puta da vida é linda. Mas há merdas que acontecem que deitam a moral abaixo, como se fosse um castelo de cartas.
Tenho andado tão a leste de tudo isto, mas tão a leste, que nem sequer me tinha apercebido como se encontrava revolto o mar em volta do nosso treinador, com a maré de contestação que se adivinha por aí a formar.
A sério. Por mim, com três pontos de avanço, ainda que com três jogos menos conseguidos, um deles absurdamente decidido pela equipa de arbitragem, estava tudo na santa paz.
Acordei esta semana e, qual não é o meu espanto, quando deparo com críticas que vão desde o ser um treinador de clube pequeno, às substituições, e designadamente, a entrada do Ghilas nos derradeiros minutos da última partida, as opçõs do tipo "entra Josué-sai Josué" ou "Defour imprecíndivel-Defour no banco", e até a sua admiração, em tempos manifestada, pelo pateta platinado e pelo Wenger. Imperdoável!
Pois bem. A meu ver, os três jogos maus foram perfeitamente normais. Um jogo a anteceder a estreia nas competições europeias corre mal? Normal.
O jogo de estreia na Champions não foi brilhante? Pois não. Mas foi a estreia desta equipa técnica em competições deste nível, e a isso, somem-lhe o peso de jogar num palco que tanto simbolismo carrega para nós, portistas. Ganhámos à equipa que, no plano teórico, será a mais fraca do grupo. Jogámos mal? É verdade, mas ganhámos.
O jogo a seguir à Champions traduziu-se no primeiro que não vencemos até à data. Um empate no jogo na ressaca da Champions, e na Amoreira é mau? Pois é
Ou seja, o que é que há aqui de fora do habitual?
Também não surpreenderia se o jogo de ontem, sendo na véspera de receber o Atlético de Madrid, tivesse dado para o torto, ou que isso aconteça no próximo, em Arouca.
Estou a baixar surpreendentemente os meus padrões de exigência? Talvez. Ou talvez seja apenas realismo.
Contudo, realisticamente, também compreendo quando leio que a questão não são só os resultados, mas também a falta de conteúdo da equipa, que não abre perspectivas muito optimistas.
Uma vez mais, qual é a novidade? Não é nada que não se tivesse visto antes.
Imputar a responsabilidade pelo que de mal vai acontecendo à postura mais defensiva ou ao duplo pivot, em especial, é, quanto a mim, uma falsa questão.
O problema, tal como noutras ocasiões recentes, é que não temos construção de jogo a meio-campo. A equipa está partida, e não há transposição de bola da, como agora lhe chamam, primeira fase de construção, junto à defesa, para a segunda, a meio-campo.
Tirando o jogo com o Maastricht, em que alinhámos de início com o Castro e o Josué, ainda não me apercebi a sério do tal duplo pivot. O sistema do Paulo Fonseca faz-me lembrar muito mais o Manster Unite, do que outra coisa qualquer, com o Fernando, e o Defour ou o Josué nos papéis de um Carrick e um Scholes.
O nosso esquema tende muito mais para um 4-4-2, do que para um 4-2-3-1. O problema, ou problemas, que são vários, começam por os nossos extremos não serem extremos, na verdadeira acepção da palavra.
O Licá, que ainda assim é o que mais se aproxima, não é um extremo puro, daqueles que vão à linha e servem o ponta-de-lança. O Quintero e o Josué, não são extremos. O Varela não é o Varela, e o Ricardo está muito verdinho. O Kelvin?
Para que a coisa funcione, com apenas dois homens a meio-campo, seriam essenciais os adiantamentos dos laterais. Acontece que os adversários não andam a ver passar os comboios, e o Paulo Fonseca bem se queixou que o Estoril nos dificultou bastante a vida na primeira fase de construção de lances, e ontem, os dois extremos do Guimarães foram, basicamente, dois defesas-laterais adiantados.
Somemos a isso uma certa contenção dos nossos rapazes (ai os jogos europeus!). Sem extremos e sem laterais, são poucas as bolas que chegam lá adiante, e se a jogada segue pela lateral, quando chega a um Quintero (deliciosa a comparação com o Maradona dos Cárpatos, Jorge), acaba.
O Quintero não é menino para tabelar. Recebe a bola, mete-se para dentro, e lá fica o lateral colado à linha, mais um espectador, à espera do que se seguirá.
Se a bola não chega lá adiante, não vale a pena esperar que o Jackson, que ainda por cima, está nas lonas, só não percebo se física, se psicologicamente, e o Lucho, resolvam alguma coisa.
Não admira por isso que dos pés do Josué saiam passes verticais, que mais vezes do que o desejável, morrem nos adversários.
Alguém tem de levar a bola da defesa para o ataque. O Lucho tem aparecido mais adiantado, e mais virado para o último passe ou para a finalização, do que para o transporte da bola do meio-campo para diante.
O Fernando, nesta filosofia dos dois médios, ao contrário do que vinha fazendo nos últimos tempos, aparece mais posicional, quase transformado numa espécie de Paulo Assunção. Por outro lado, carrilar o jogo pelo centro do terreno, onde o aglomerado de jogadores é maior, não parece boa idéia.
Que alternativa, então? Assim de repente, parece-me que restam os centrais. Em vez de se limitarem a passes lateralizados entre si, ou para o médio mais recuado, ou a pontapés directos para diante, fadados ao insucesso, que tal serem eles próprios a adiantarem-se no terreno, transportando a bola até à entrada do meio-terreno adversário, e criando assim uma hipótese de supremacia.
Tanto o Mangala como o Otamendi já jogaram a laterais. Será muito complicado? Implica a subida de toda a defesa, é verdade. Será demaisado arriscado? Se o Fernando já anda tão por cá atrás, não poderá fazer a compensação?
Bem, ontem tivemos sorte. O Pedro Proença viu uma falta naquela jogada em que os costados do vimaranense, agrediram barbaramente a peitaça do Quintero, enquanto este coreografava o "Learning to fly" do Tom Petty.
Noutras ocasiões, vamos ver como será. Mas valerá a pena começar já a retirar a carta do canto da fila de baixo do castelo?
Nota: As imagens que encimam o texto foram seleccionadas para memória futura. Para que, quando outros forem beneficiados por erros de arbitragem, nos lembremos delas e as comparemos com as que nesses dias, estiverem nas capas daqueles jornais...